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terça-feira, 29 de abril de 2014

Resenha - Lolita, Vladimir Nabokov


Título Original: Lolita
Autor: Vladimir Nabokov
Editora: várias
skoob

Lolita foi um livro que me chamou atencao pela capa. Sim, isso mesmo! Sou daquelas pessoas que fica "seduzida" pela capa de um livro, mesmo sem saber direito sobre o que ele trata.E foi exatamente o que aconteceu com Lolita. Eu me apaixonei pela capa, e decidi que leria o livro, mas não tinha nem lido a sinopse! Mas para vocês, vou começar a resenha sendo bem franca: Lolita conta a história de um pedófilo. Pronto, agora você decide se quer ler a resenha até o final ou não.

A História

O livro, narrado em primeira pessoa por Humbert Humbert (assim mesmo, não digitei duas vezes enganado), inicia revelando a história do primeiro amor desse personagem, quando ele próprio ainda era uma criança. Ele usa essa história para tentar justificar o porque de ter suas excêntricas preferências sexuais. Após essa introdução, ele passa a narrar os acontecimentos de sua vida adulta - o primeiro casamento, as circunstâncias que o levaram a se mudar da Europa para a América. Já na América, Humbert conhece a família Haze, composta pela adorável Dolores, de 12 anos, e sua mãe Charlotte. Por interesse em tornar-se mais íntimo de Dolores (futuramente apelidada Lolita), Humbert se casa com a Charlotte. Quando esta tragicamente morre, o padrasto encontra a oportunidade que queria para concretizar todos seus desejos e fantasias relacionadas à enteada. Nesse momento, a "História de Amor" entre Humbert e Lolita começa (muitas muitas muitas e muitas aspas para o termo história de amor)

O livro já foi adaptado duas vezes para o cinema (em 1962 e em 1997), e várias vezes para o teatro. É considerado um clássico da literatura em língua inglesa. Esse é o romance que gerou os conhecidos termos/gírias "ninfeta" ou "lolita" para se referir a meninas menores de idade consideradas sexualmente atraentes.

Minhas Impressões

Me faltam palavras para falar sobre esse livro. A escrita do autor é INCRÍVEL, não apenas pelo seu estilo culto, impecável, rebuscado sem se tornar indecifrável. Me surpreendeu a capacidade do Nabokov de envolver o leitor no drama do Humbert. Sendo o livro inteiro sob o ponto de vista deste personagem, temos uma visão MUITO parcial da história - e o narrador conta sua história de forma tão envolvente, tão distorcida, tão sedutora, que me peguei em momentos "torcendo" para ele. Outras vezes ficava simplesmente horrorizada com tudo o que acontecia e ele conseguia esconder em meio a palavras bonitas, distorções da realidade e mentiras. Há momentos que Humbert te convence a culpar ou até mesmo odiar Lolita - sim, a menina de 12 anos que perdeu a mãe e era abusada pelo padrasto. Porque não, afinal?

Lolita é um livro INCRÍVEL, que me fez pensar durante muito tempo sobre muitos aspectos. Sobre ouvir apenas um lado da história, sobre a vida, sobre pedofilia. Tive discussões acaloradas com amigos meus, tentando chegar à conclusões: se alguém simplesmente nasce com um desejo sexual "inadequado" como o Humbert e acaba, infelizmente, pondo em prática esses desejos, essa pessoa deve ser apenas punida ou tratada como um doente mental? E uma pessoa que sente esse fascínio mas nunca praticou esses atos - você sentiria pena? Nojo? Raiva? É realmente culpa da pessoa ela ter esses desejos? Você pode colocar essa pessoa à margem da sociedade por ela ter essa condição? Mas você arriscaria manter o convívio com ela, e talvez colocar as crianças ao seu redor em risco?

Gente, entendam, eu não acho certo de maneira nenhuma um adulto abusar sexualmente de uma criança, e não estou defendendo de maneira nenhuma isso. Mas isso são apenas alguns dos questionamentos que me fiz durante a leitura.

Li resenhas que insinuam alguma culpa da Lolita. E isso me entristeceu muito. Primeiro porque percebi que essas pessoas caíram na armadilha do Humbert - tudo que ele mais queria ao escrever era abrandar a própria culpa que ele sentia. E vocês "caíram" na armadilha dele. E também porque isso é a típica mentalidade machista que ainda vemos por aí, de sempre culpar a vítima. A menina perde a mãe, vira órfã, o padrasto (que ela convive a apenas alguns meses) obriga-a a abandonar a própria casa e também a ter relações sexuais com uma frequência diária, ameaçando-a o tempo todo para que ela mantesse a situação em segredo. E a culpa é dela? E ela é uma ninfeta hipersexualizada que seduz homens mais velhos? realmente?

Me desculpem se estou exaltada... Esse tipo de coisa realmente me enfurece!E não é que eu tenha amado a personagem da Lolita. Na verdade, a gente não conhece a menina de verdade, apenas a visão totalmente deturpada que o Humbert tem dela. Acredito que ela seja a típica menina entre 12-15 anos, com todas peculiaridades da idade. No geral, foi um livro que eu não amei nenhum personagem, e sim a obra como um todo. Repito, eu achei incrível... 

Enfim, eu RECOMENDO MUITO esse livro. Eu gosto muito de livros YA, de livros mais "bobinhos", mas lendo este livro redescobri o quão bom é ler algo que te faz pensar, que te traz algo novo, que te ensina, que dá assunto para uma inflamada discussão numa mesa de bar. Então leia. Deixe o Humbert dar um nó na sua cabeça e depois me conta o que você achou. Eu não acho que você vá se arrepender, sério.

Trechos:

"Lolita, luz da minha vida, fogo da minha virilidade. Meu pecado, minha alma. Lo-li-ta: A ponta da língua faz uma viagem de três passos pelo céu-da-boca abaixo e, no terceiro, bate nos dentes. Lo. Li. Ta."

"Pela manhã ela era Lô, não mais que Lô, com seu metro e quarenta e sete de altura e calçando uma única meia soquete. Era Lola ao vestir os jeans desbotados. Era Dolly na escola. Era Dolores sobre a linha pontilhada. Mas em meus braços sempre foi Lolita."

"(...)a mente convencional de Lolita foi se dando conta de que até mesmo a mais miserável das vidas em família era preferível àquela paródia de incesto – que, afinal de contas, era o que eu tinha de melhor a oferecer à pobre criança abandonada."

"Eu te amei, era um monstruoso pentápode, mas como te amava. Era desprezível, brutal, torpe – tudo isso e muito mais, mais je t´aimais, je t´aimais! E houve momentos em que sabia como você se sentia, e era um inferno sabê-lo, minha menina querida."

"Agora, contorcendo-me de dor e deblaterando contra minha própria memória, reconheço que naquela ocasião, como em outras semelhantes, eu sistematicamente cuidava de ignorar os sentimento de Lolita apenas para aliviar minha vil consciência."


9 comentários:

  1. Ótimo post! É raro ver pessoas compartilhando livros que não estão "na moda". Esse livro é ótimo. Já li umas 4 vezes e assisti o filme. Já leu Laranja Mecânica?


    www.atomicblack.com

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    1. Obrigada pela visiiita! Sim, eu cansei de ler os livros da moda porque eles são todos o mesmo estilo... E acertei na escolha, o livro é muito bom! Não li Laranja Mecânica (mas vi o filme, haha). é bom? tu recomenda? :)

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  2. Oi Lisiane!
    Gostei do seu blog :D Ótimo post, estou louca para ler esse livro e você só me deixou com mais vontade haha.
    Estou te seguindo (:

    www.pfslivros.blogspot.com.br

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    1. Marina, que bom que você gostou, sério! Fico feliz :)
      Espero que vc leia e goste. Sério, eu gostei muuuuuito (mas acho que já dava pra ver na resenha né...)
      Obrigada pelo comentário, e tbm já estou te seguindo (:

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  3. Oi Lisiane, tudo bem?

    Nossa, adorei a sua resenha. Vou ler esse livro ainda nesse ano e já ouvi tantas opiniões sobre ele. Realmente, é um tema muito forte e não são todos que tem estômago para uma história assim. Mas como você disse, o livro é incrível e estou muito mais interessada agora.

    O problema de livros em primeira pessoa é esse, a gente só tem uma visão de um lado da história, e muitas vezes quem tá lendo enxerga isso como verdadeiro. Entendo seus questionamentos e acho eles na verdade bem plausíveis.

    Bom, é isso... com certeza lerei e virei aqui te dizer minha opinião.

    Ótima resenha!!

    Beijinhos,

    Rafaella Lima
    http://vamosfalarlivros.blogspot.com.br/

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    1. Rafaella, muito obrigada pela visita! Que bom que tu gostou da resenha! Esse assunto é polêmico e bem delicado mesmo, acho que esse não é um livro que agradaria a todo mundo... Mas vou esperar você ler e dar sua opinião, espero que você goste tanto quanto eu (ou mais! hehehe)
      Beijos

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  4. Amei sua resenha! Já li várias opiniões diferentes desse livro, mas nunca nenhuma tão completa como a sua. Mas sei lá, mesmo com todos os seus elogios ainda tenho um "pé atrás" com Lolita. Não sei se vou gostar da leitura.
    Beijos,

    Letícia
    http://www.odomdaescrita.com.br/

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    1. Letícia, muito obrigada!!! Sim, consigo entender que tenham opiniões tão contraditórias em relação ao livro, afinal esse assunto é bem polêmico! Mas torço pra que você decida ler e que goste...
      Obrigada pela visita!
      Beijos

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  5. Interessante, ainda não li o livro,
    mas a resenha ficou muito bem escrita!

    http://ligacaoliteraria.blogspot.com.br/

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